QUINTALKS com Mathias Reis: 'Cartografia e geografias da experiência: Introdução' (Parte 1)
Os
encontros que aconteceram durante a residência artística na nave na mata, foram
uma deriva por entre intensidades latentes. A companhia dos colegas passou por
reflexões caras ao fazer artístico, as pesquisas e as circunstâncias políticas
em que vivemos. Quase sempre abordadas por vias moleculares, questões como o
fim da identidade, a crise do humanismo e a bio-política nos direcionaram a um
campo de incertezas e dúvidas, de empirismo e experimentação. Puxar o tapete da
modernidade, com certeza, é uma experiência melhor de ser feita em coletivo, em
bando, não como massa homogênea, mas por vias da diferença, deixando os afetos
de cada um ter espaço de respiro e propagação, tempo para que reverbere
sentidos ao outro. Esse processo é uma mão dupla perigosa, as influências recíprocas
podem se anular, correm o risco de formar uma nova identidade, de viver
a sombra de vícios de linguagem, de transformar a diferença numa estátua,
imóvel e sem voz. Podemos dizer o mesmo da Mata Santa Genebra, uma influência
muito forte, carregada de intensidades que vibram nos corpos e ideias, mas que para
ser castrada e transformada em monumento, basta um arremate de idealismo romântico. O contato material e empírico se deu com as relações de preensibilidade das trepadeiras e dos macaco-prego e seus devires, para ver esses questionamentos visite: Preensibilidade e perspectivismo inter-espécie
As reflexões que apresento a partir daqui tiveram motivação questionar sobre o processo de criação em residências artísticas. Como o processo do artista é influenciado pelo ambiente com o qual se relaciona? Antes de generalizar uma ideia dizendo que ela ocorre para todos, prefiro pensar especificamente em pesquisas que tem uma intencionalidade em trabalhar com essas relações. Assim, a curiosidade de investigar esses movimentos, partiu de experiências práticas, de um saber-fazer processual que também é nômade. Na apresentação para os amigos/grupo de discussões da Nave na mata, decidi que seria interessante contextualizar e recapitular as vivências e circunstâncias que se desdobraram nessas dúvidas. A residência artística ‘Autumnus Austral’ que desenvolvi na Nave na Mata durante o outono, também foi uma grande disparadora dessas possibilidades. Essas discussões estão ainda acontecendo, em imanência das ideias e encontros, mas minha intenção aqui é de criar um plano de organização delas, elaborando alguns conceitos que podem potencializar a discussão.
Observação: Tenho referência em vários autores que costumo ler sobre o assunto em diversos campos como na filosofia (Deleuze,Guattari, Merleau-Ponty, Dufrenne, Suely Rolnik) na biologia (Maturana e Varela, Uexkull), na antropologia (Ingold, Viveiros de Castro, Haraway), na física (Capra), na geografia (Milton Santos) e nas artes (Smithson, Hundertwasser, etc etc) mas tomarei a liberdade de não me prender aos conceitos como elaborados por eles ou de fazer citações diretas. Aproveitarei a ocasião para organizar um plano de organização conceitual próprio que componha sentido a nossa própria circunstancia e especificidade.
Introdução
(Encontro realizado no dia 23/07/2019, estiveram presentes Edson Santos, Iam Campígotto, Flávio Shimoda, Helena Marc, Pedro Hurpia e Seizo Soares)
Durante a fala, relatei a experiência com o Atelier Contágio, um projeto que desenvolvi num espaço próprio durante três anos junto à aproximadamente 30 artistas. Tinha como proposição pensar na especificidade eco-lógica do ambiente para desenvolver trabalhos artísticos, assim como, duas mostras abertas ao público. Após o processo, tive uma reflexão de que se formou um território material, que entendo por paisagem. Além dos trabalhos artísticos junto a plantas e outras espécies, também contava com hortas orgânicas, viveiros, bio construções e uma relação próxima da permacultura. No entanto, como essa proposição era nova para a maioria dos participantes, partilhamos experiências e vivências, desenvolvemos técnicas em conjunto e um modo de ação coletivo. Assim, pensei na possibilidade de havermos formado um território que era imaterial, constituído por essas experiências.
AMBIENTE REFERENCIAL
www.ateliercontagio.com
https://www.mathiasreis.com/territoacuterio-continuo--continuum-territory-2016-2018.html https://www.mathiasreis.com/genealogia-da-mateacuteria--genealogia-of-matter-2016-2018.html
DESLOCAMENTOS
https://www.ateliercontagio.com/urubu-rei-2018.html https://www.mathiasreis.com/variacoesdopevermelho.html
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